Dal "Libro dell'inquietudine" (Livro do Desassossego) di Fernando Pessoa

 A ideia de viajar nauseia-me. Já vi tudo que nunca tinha visto. Já vi tudo que ainda não vi. O tédio do constantemente novo, o tédio de descobrir, sob a falsa diferença das coisas e das ideias, a perene identidade de tudo, a semelhança absoluta entre a mesquita, o templo e a igreja, a igualdade da cabana e do castelo, o mesmo corpo estrutural a ser rei vestido e selvagem nu, a eterna concordância da vida consigo mesma, a estagnação de tudo que vivo só de mexer-se está passando.

 Paisagens são repetições. em uma simples viagem de comboio divido-me inútil e angustiadamente entre a inatenção à paisagem e a inatenção ao livro que me entreteria se eu fosse outro. Tenho da vida uma náusea vaga, e o movimento acentua-ma. 

Só não há tédio nas paisagens que não existem, nos livros que nunca lerei. A vida, para mim, é uma sonolência que não chega ao cérebro. Esse conservo eu livre para que nele possa ser triste. 

Ah, viajem os que não existem! Para quem não é nada, como um rio, o correr deve ser vida. Mas aos que pensam e sentem, aos que estão despertos, a horrorosa histeria dos comboios, dos automóveis, dos navios não os deixa dormir nem acordar.

 A renúncia é a libertação. Não querer é poder. Que me pode dar a China que a minha alma me não tenha já dado? 

L'idea di viaggiare mi nausea. Ormai ho visto tutto ciò che non avevo mai visto. Ormai ho visto tutto ciò che non ho ancora visto...

Un'ottima traduzione  è quella di Piero Ceccucci e Orietta Abbati: Pessoa - Il libro dell'inquietudine  - Ediz. Newton Compton  2006 


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